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Autor: Arqtº. Manuel Cerveira Pinto |
O nosso mais sincero agradecimento pela autorização de publicação ao autor deste pequeno roteiro e desenho, o nosso ilustre professor Arquitecto Manuel Cerveira Pinto, que o realizou no ano de 1988, ainda na qualidade de aluno. O nosso muito obrigado.
KoolKase
Em 1233 os franciscanos obtêm do Papa Gregório IX uma decisão pontifícia de recomendação ao Bispo e Cabido do Porto para que os não estorvassem na fundação de um convento nesta cidade.
Sofrem perseguições movidas pelos Bispos, Abade, Priores, etc.
Atraem no entanto a generosidade e devoção dos fiéis.
O terreno para a edificação do convento é cedido por um devoto no lugar da “Redondela”.
Abandonam no entanto a construção devido a querelas com o Bispo e Cabido, e aceitam a proposta de formar o convento em Gaia.
Inocêncio IV manda restituir aos frades franciscanos o lugar de onde haviam saído em 1244.
Principiam a obra em 1245.
É reconstruída em 1383 e terminada apenas em 1410.
Sofre ainda uma reconstrução só concluída em 1425.
Supõem-se que a construção inicial seria muito modesta.
A construção em estilo românico era ainda muito vincada no norte, nessa época, e isso de sobremaneira se reflecte na própria construção da igreja e inclusive na decoração.
Segundo Tavares Chicó: “Em S. Francisco – igreja mais vasta e mais vertical do que Stª Maria de Leça e em que as janelas da abside são decoradas de esferas como as igrejas galegas das ordens mendicantes – à parte a folhagem dos capitéis do coro e da parte lateral, é a flora românica que aparece”.
O revestimento é arcaico, ainda românico.
Os pilares são de tipologia rectangular cruciforme, com meias colunas adossadas.
Os capitéis ostentam decoração fitomórfica puramente imaginária, também eles de larga influência românica.
Nos séculos XV e XVI algumas famílias nobres elegem a igreja para o seu “Panteão”, assim, vai ser este facto deveras marcante para, com o tempo, à medida que se conhecem novos gostos a igreja ir sofrendo sucessivas alterações, algumas extremamente profundas, como é o caso do barroco.
Assim, nos séculos XVII e XVIII todo o interior da igreja revestido numa exuberante e “luxuosa” decoração em talha dourada.
Nesta altura é também provavelmente ampliado o coro alto.
No final do cerco do Porto em 1833, um incêndio destrói o claustro, e parte da igreja, nomeadamente o portal, que foi reedificado e que é o que hoje existe. É um portal executado ao gosto da época em claro estilo barroco.
Da primitiva fachada subsiste a rosácea (símbolo da Rosa Fortunae). É constituída por doze colunelos dispostos radialmente, possui as características das mais antigas rosáceas góticas.
Possui três naves, sendo a central mais elevada que as laterais, planta de tradicional morfologia românica em cruz latina.
Não há nesta igreja propensão de grandeza ou monumentalidade, assim como em Stª. Maria de Leça, igreja que muito se lhe assemelha o que parece aliás ser uma característica das igrejas das ordens mendicantes edificadas no decorrer do século XIII. Segundo Tavares Chicó elas dão “origem a uma arquitectura nacionalizada, apesar da relativa pobreza da escultura e do aspecto arcaizante de certas soluções”.
O portal lateral, foi também ele vitima da “explosão” barroca, não em termos de exterior mas sim de interior, onde foi construído um retábulo deixando assim a porta de ter qualquer função como tal.
Comparando a arquitectura gótica portuguesa com a alemã, é ainda Tavares Chicó que afirma: “Na igreja portuguesa, que é muito mais vasta mas mais pobre quanto ao material empregado, os arcos divisórios são muito mais elevados, as janelas ficam sobre os pilares, e de acordo com o ideal franciscano cobertas de madeira. O transepto é saliente, mais baixo que a nave central, e a capela-mor mais baixa que o transepto”.
As paredes são amparadas no exterior por contrafortes, assinalando mais uma vez a influência românica.
Possui dois absidíolos colaterais à capela-mor e mais baixos que esta.
A porta lateral possui ainda o traçado original, com arcos apontados boleados e colunas, com capitéis fitomórficos, sendo dois deles lisos.
A iluminação é dada pela rosácea e pelas aberturas, quer da nave central quer das naves laterais e ainda pelos singelos vitrais da abside e do transepto.
É de salientar que com a exuberância desregrada da talha barroca, alguns vitrais foram parcialmente tapados e que é de difícil leitura a estrutura do edifício para quem se encontra no interior, não sendo também possível distinguir qual o tipo de cobertura que aí preside.
No interior existe, do lado esquerdo de quem entra, uma capela sepulcral de Luís Álvares de Sousa, sobrepujada por uma inscrição gótica datada da altura da conclusão da obra 1474.
Faz parte, a igreja de S. Francisco, de um grupo de igrejas que possuem algumas características comuns, por exemplo:
Stª Maria de Leça;
S. Francisco de Santarém;
Facial sul da igreja da Batalha;
Bartolomeu Joanes, encostada ao flanco norte da Sé de Lisboa;
(…)
Segundo João Barreira, a igreja de S. Francisco do Porto vai buscar o seu modelo a Stª Maria de Leça.
Autor: Arquitecto Manuel Cerveira Pinto